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PELO DIREITO DE NASCER - I
por Terlânia Bruno e Ana Luisa Zaniboni Gomes,
jornalistas da equipe da OBORÉ Projetos Especiais.
Artigo finalizado em 26/07/2006.
A história da luta pela democratização da comunicação no Brasil acaba de
ganhar mais um capítulo. A Rádio Heliópolis foi fechada no dia 20 de julho de
2006. Teria sido mais uma ação da Polícia Federal, como tantas outras que
acontecem a todo momento por todo o país. Mas foi com a Rádio Heliópolis,
emissora comunitária premiada em 2003 pela Associação Paulista dos Críticos
de Arte (APCA) por sua atuação na promoção da cidadania dentro de uma das
mais populosas favelas brasileiras, com cerca de 120 mil habitantes. Foi com a
Rádio Heliópolis que em 14 anos de existência reuniu ao seu redor uma
extensa lista de amigos, parceiros e colaboradores das mais diversas áreas.
A rápida mobilização contra o fechamento da emissora produziu resultados
quase que imediatos. Dia 21 de julho, o Dr. Yapir Marotta, da Anatel – Agência
Nacional de Telecomunicações – procurou, por telefone, Geronino Barbosa,
coordenador de programação da rádio, para dizer que havia a possibilidade de
a rádio voltar a funcionar. Para isso, deveria vincular-se a uma instituição de
ensino superior.
A notícia foi especialmente comemorada no Ato em Defesa da Rádio Heliópolis
e da Democracia na Comunicação, realizado na sede da UNAS - União de
Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João
Clímaco, no dia 22 de julho. O encontro rendeu o vídeodocumentário
Fechamento da Rádio Heliópolis, produzido pelo Projeto Cala-Boca Já Morreu –
porque nós também temos o que dizer!, GENS – Serviços Educacionais e
Reflexo de TeTo, com apoio da OBORÉ, AMARC/Brasil, e Onda Cidadã.
Mesa de Trabalho da AMARC
O desdobramento do Ato em Defesa da Rádio Heliópolis foi uma reunião da
Mesa de Trabalho da AMARC (Associação Mundial das Rádios Comunitárias e
Cidadãs), no dia 26 de julho de 2006, na sede da OBORÉ, Escritório Paulista da
entidade. O objetivo do encontro era discutir de que forma viabilizar a
proposta apresentada pela Anatel e a rádio ser reativada.
O gerente da Anatel, Yapir Marotta, que participou da reunião por
audioconferência, de Brasília, disse que é possível a Rádio Heliópolis voltar a
funcionar, em caráter provisório e experimental, bastando a Agência autorizar
a execução do serviço especial com finalidades científicas ou experimentais. O
canal disponível para esse serviço é o 199.

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Para isso, explicou Yapir, a UNAS deveria estabelecer parceria com uma
instituição de ensino. Eleita pela entidade como sua parceira preferencial, a
Universidade Metodista foi representada pela professor Sebastião Squirra,
diretor da Faculdade de Multimídia que manifestou interesse em ajudar,
comprometendo-se a discutir o assunto com o reitor da universidade. Squirra
informou, no dia 1º de agosto de 2006, que a Reitoria da Metodista concordou
em requerer junto à Anatel a execução do Serviço Especial para Fins Científicos
ou Experimentais.
É importante destacar que tais serviços permitirão verificar os resultados
teóricos obtidos pelo CPqD – Centro de Pesquisa de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações – referentes à operação de estações
de rádios comunitárias em canais vizinhos e, principalmente, a ampliação
desses canais. Ao fazer o requerimento à Anatel, a Metodista compromete-se a
realizar experimentos no campo que avaliem a possibilidade de utilização de
canais vizinhos dos atuais canais utilizados por emissoras de radiodifusão
comunitária e radiodifusão sonora em freqüência modulada.
As pesquisas desenvolvidas pela Metodista poderão ampliar as conclusões do
CPqD e subsidiar uma futura alteração da legislação e regulamentação técnica
vigentes.
Outorga para fins científicos
A outorga para fins científicos tem validade de seis meses, prorrogáveis por
mais seis. Yapir Marotta explicou o por quê do canal 199: "Para toda a grande
São Paulo a gente só conseguiu designar um canal para as comunitárias, o
198. A legislação diz que as rádios precisam estar a 4 Km de distância uma das
outras, caso contrário seria difícil ouvir o sinal de transmissão. Existe a
possibilidade de colocarmos dois canais de transmissão, o 198 e o 199, e com
isso melhorar a distribuição das rádios comunitárias. Ao levar a Rádio
Heliópolis para o canal 199, obteríamos dados técnicos para comprovar essa
possibilidade. O escritório da Anatel em São Paulo se dispôs a colaborar nesse
experimento em campo com o equipamento de radiomonitoragem e verificar
os seus resultados".
A decisão aponta para duas soluções. Primeiro, viabilizar o funcionamento da
Rádio Heliópolis o quanto antes; depois, testar o canal 199 que poder vir a ser
uma segunda opção para o serviço de radiodifusão comunitária em São Paulo.
No entanto, a solução definitiva para a Rádio Heliópolis e as inúmeras
emissoras comunitárias da região deve vir do Ministério das Comunicações.
Mesmo a Anatel tendo designado o canal 198 para São Paulo e municípios
vizinhos (Ato nº 43.957, de 26 de abril de 2004), o Ministério das
Comunicações, até este momento, não divulgou o aviso de habilitação para a
região.

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Mexeram com a Rádio Heliópolis
Era 10h45 do dia 20 de julho quando a Polícia Federal e a Anatel lacraram a
Rádio Heliópolis.A decisão foi tomada no dia 31 de maio de 2006, pelo Dr.
Hélio Egydio de Matos Nogueira, juiz federal da 9ª Vara Criminal Federal de
São Paulo e autorizava a Polícia Federal a apreender os equipamentos
utilizados pela rádio: uma mesa de som, dois microfones, uma CPU, um
gerador de estéreo e um transmissor, levados para a sede da Polícia Federal,
no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista.
João Miranda, presidente da UNAS, responde agora a processo criminal. A
UNAS é uma entidade criada pelos moradores de Heliópolis há 25 anos,
atuando com o objetivo de promover cidadania e melhoria da qualidade de
vida da comunidade.
O Escritório Modelo da Faculdade de Direito da PUC-SP “D. Paulo Evaristo
Arns”, que assessora a Rádio Heliópolis em assuntos jurídicos, está cuidando
da defesa de João Miranda. Se conseguir o habeas corpus preventivo em favor
de Miranda, o Escritório fará o pedido de devolução dos equipamentos.
São Paulo aprovou lei que garante existência legal às rádios
comunitárias
O Prefeito José Serra sancionou, no dia 23 de junho de 2005, a Lei 14.013 que
faz de São Paulo a primeira grande cidade brasileira a ter o direito de autorizar
o funcionamento de rádios comunitárias. Formalmente, o prazo é de 90 dias
para o Executivo municipal definir regras pormenorizadas de sua
operacionalização.
Para Paulo Fernando Silveira, juiz federal e autor do anteprojeto, a decisão do
Prefeito Serra resgata a autonomia legislativa do município de São Paulo. “O
princípio da autonomia foi usurpado pela União quando instituiu a lei 9.612/98,
que regulamentou o serviço de radiodifusão comunitária, interferindo nas
questões de interesse estritamente locais”, defende o juiz, especialista em
Direito da Radiodifusão Comunitária e autor de uma obra de referência no
assunto – o livro Rádios Comunitárias, editado pela Editora Del Rey, em 2001.
A lei aprovada em São Paulo descentraliza da esfera federal para a municipal
as decisões sobre a exploração dos serviços de radiodifusão comunitária. Isso
não significa substituir a legislação federal de 1998, mas fornecer instrumentos
ao poder local para apoiar a existência dessas pequenas emissoras, reduzindo
o tempo de análise dos processos para concessão das outorgas, por exemplo.
Silveira lança mão dos princípios do Federalismo para comprovar a
constitucionalidade da nova lei. Esses princípios asseguram força política
autônoma aos estados e municípios para decidirem sobre questões regionais e
locais, respectivamente. Definem também que apenas os assuntos de interesse
nacional ou que envolvam mais de um Estado deverão ser discutidos no
âmbito da União. "A partir do momento em que o município recobra sua
parcela de poder político indevidamente usurpada pela União, resgata sua

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autogovernabilidade
política,
como
quer
a
Constituição
Federal,
proporcionando aos seus munícipes o poder de decidirem sobre os interesses
locais", afirma. Em outras palavras, na lógica constitucional uma lei municipal
não vale menos do que uma lei estadual ou federal.
Sem concessões para São Paulo
Dados recentes do Ministério das Comunicações - Relatório de Atividades
2004/2005 – apontam a existência de 2.345 emissoras comunitárias
legalizadas no país. Entretanto, nenhuma delas em São Paulo, que tem ficado
fora do mapa das autorizações de outorga junto a outros 144 municípios do
Estado.
Documento emitido pelo mesmo Ministério, em julho de 2005 reconhece 286
entidades da Capital com documentação apresentada em Brasília e ainda sem
parecer técnico. Muitas ainda aguardam resposta há mais de três anos. Outras
tantas, menos pacientes, colocam a rádio em funcionamento, correndo o risco
de “visitas” da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações - e da Polícia
Federal. São essas duas organizações que, juntas, têm protagonizado
operações de apreensão de equipamentos, fechamento de emissoras, como
ocorreu com a Rádio Heliópolis, e não raro, prisão dos responsáveis.
Embora a Anatel tenha designado, desde abril de 2004, o canal 198 para as
rádios comunitárias da cidade de São Paulo (freqüência 87.5 a 87.7), o
Ministério das Comunicações ainda não fez o chamamento para que as
associações e fundações interessadas formalizem seus pedidos de concessão.
A expectativa é que a lei municipal reverta esse quadro, tornando mais ágil a
análise dos processos, que se restringirão à área do município.
Outro ponto a favor da lei local é a facilidade na fiscalização dos processos de
outorgas. Sabe-se que a pressão dos políticos, em Brasília, acaba por
favorecê-los na fila de espera das concessões. Com a descentralização dos
processos, potencializa-se o controle social e o conhecimento de quem são,
realmente, os beneficiários das concessões.
Importante destacar os instrumentos que, pela legislação federal, regulam os
serviços de radiodifusão de baixa potência: Lei da Radiodifusão Comunitária
(Lei 9612 de 19 de fevereiro de 1998); Decreto nº 2.615 de 3 de junho de
1998; Portaria 191 de 6 de agosto de 1998, que aprova a Norma
Complementar 02/98; Portaria 83, de 19 de julho de 1999, que dá nova
redação à Norma Complementar 02/98 e Medida Provisória 2143, de 2 de maio
de 2001. Esta última permite às emissoras, mediante uma licença provisória,
entrar em funcionamento imediatamente após a autorização do Ministério das
Comunicações antes mesmo de sua aprovação final pelo Congresso Nacional.
Auto-sustentação: uma questão de sobrevivência
Diferentemente da lei federal, a lei 14.013 favorece a auto-sustentação das
pequenas emissoras pois permite patrocínio, sob a forma de apoio cultural ou

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inserção publicitária, desde que esses recursos sejam, obrigatoriamente,
revertidos para a própria emissora e administrados pela associação
responsável.
Nas regras federais, uma rádio comunitária não pode veicular publicidade. Só é
permitido apoio cultural desde que restrito aos limites de seu raio de alcance
de um quilômetro (1Km). Isso praticamente inviabiliza a sua existência, pois
mesmo contando com mão-de-obra voluntária a emissora precisa de recursos
para compra, manutenção e atualização de equipamentos, além de outras
pequenas despesas como contas de luz e telefone.
Plano Diretor: desenhando o futuro da cidade
Pouca gente sabe ou se lembra de que o Plano Diretor do Município de São
Paulo de 1971 vigorou até 2002. E que o novo Plano Diretor Estratégico (PDE),
lei 13.430 de 13.09.2002, previu revisões a cada quatro anos. Em agosto de
2004, foi aprovada a lei 13.885 estabelecendo normas complementares ao
PDE, instituindo os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras e
dispondo sobre o uso e ocupação do solo no município de São Paulo.
Este importante documento define e planeja o desenho, a “cara futura” do
município, e apresenta uma inovação de fundamental importância para a
distribuição das concessões de rádios comunitárias na cidade. No artigo 266 do
novo Plano Diretor Estratégico há a determinação de que o Executivo
desenvolva o Plano Diretor de Radiodifusão Comunitária e o incorpore à
revisão de 2006. De acordo com o arquiteto Nabil Bonduki, vereador de 98 a
2002 (PT) e à época relator do PDE, isso significa distribuir as pequenas
emissoras de forma organizada, a partir dos dados geográficos como relevo e
demografia, sem correr o risco de interferências de umas sobre as outras.
O artigo 266 prevê ainda a participação da sociedade no desenvolvimento das
regras para a instalação das rádios, no desenvolvimento de sistema público de
controle de cadastros georreferenciados e formas de participação do Executivo
Municipal na produção de conteúdo a ser disponibilizado para veiculação.
Uma história de quase uma década
Coerente com a sua linha de atuação na comunicação popular desde 1978, a
OBORÉ resolve, a partir de 1995, através de seu recém-criado Núcleo de
Rádio, desvendar, acompanhar e influir na política de radiodifusão comunitária
que ora se instalava no Brasil.
Buscou atuar com radiocomunicadores comunitários através de cursos
temáticos, oficinas de radiojornalismo, reunindo e juntando as entidades
representativas das diversas associações candidatas a emissoras de baixa
potência e abastecendo-as com produtos radiofônicos de qualidade.
Preparava, assim, o terreno para a atuação e sobrevivência dessas pequenas
rádios tão logo chegassem as legalizações. Uma vez atuantes e integradas,

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poderiam funcionar como um valioso instrumento de apoio às ações de
desenvolvimento sócio-econômico dos seus municípios e de suas comunidades.
A discussão sobre o poder local
A idéia de um projeto de lei visando a municipalização das concessões das
rádios comunitárias começou a ganhar corpo em 1999, quando foi realizado
o Workshop “Direito Constitucional e Radiodifusão Comunitária”.
Organizado pela OBORÉ e Escola de Comunicações e Artes da USP, o evento
reuniu, no dia 14 de outubro, na Sala da Congregação, representantes de
rádios comunitárias de São Paulo, do Legislativo, Judiciário, Ministério Público,
da Aeronáutica, engenheiros e professores de Comunicação.
O ponto alto do encontro foi a palestra do advogado Paulo Fernando Silveira,
juiz federal já conhecido como um incisivo defensor da democratização dos
meios de comunicação, tendo concedido, à época, mais de cem liminares para
o funcionamento de rádios comunitárias na região de Uberaba, no Triângulo
Mineiro.
Silveira já defendia, à época, o argumento de que é o município que deve
conceder a autorização para o funcionamento das rádios comunitárias.
"Quando a União vai disciplinar rádios que atinjam mais de uma comunidade,
mais de um Estado, que atinjam um interesse nacional, é ela que tem o poder
de dar a concessão. Fora disso, sem receio de errar, posso dizer que a
concessão de rádios comunitárias pertence unicamente ao município", afirmou.
Na ocasião, o engenheiro Fernando Pereto, diretor da Datagraph Engenharia,
apresentou as diretrizes do que, meses depois, seria o Centro de Elaboração
de Projetos de Engenharia para Rádios Comunitárias - CEPERadCom – um
grupo interdisciplinar, anexo ao Núcleo de Rádio da OBORÉ, com o desafio de
refletir sobre instrumentos e métodos que pudessem auxiliar, efetivamente, a
produção dos estudos técnicos de radiodifusão comunitária de acordo com o
exigido pela lei federal.
Cursos para comunicadores populares: aproximando quem aprofunda
com quem espalha
A realização, em 99, do workshop “Direito Constitucional e Radiodifusão
Comunitária” coincidiu com outra importante iniciativa voltada a qualificar as
equipes das pequenas rádios na montagem ou reorganização de sua grade de
programação: a montagem de cursos de capacitação para radialistas.
A partir da experiência vivida nos seminários “Comunicação em Legítima
Defesa da Vida”, realizados em 1996 para radialistas e dirigentes dos 3.660
sindicatos de trabalhadores rurais, a OBORÉ pode avaliar e reconhecer que que
as questões de saúde pública eram desconhecidas da maioria, assim como as
diretrizes das políticas públicas de saúde em voga no Brasil e estabelecidas a
partir da Constituição de 88, através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Desenvolvidas por todo o Brasil sob os auspícios do convênio
Fundacentro/CONTAG Comunicação Em Legítima Defesa da Vida -

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estabelecido entre a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho (órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego) e a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) - essas atividades
integravam um grande plano de ação visando a diminuir os acidentes,
mutilações, intoxicações e mortes de trabalhadores rurais. Depois da
construção civil, a categoria dos rurais era a que, à época, acusava os mais
altos índices de sofrimento no trabalho.
Foram realizados oito seminários de Comunicação, Segurança e Saúde nas
cinco regiões do país reunindo, pela primeira vez, os mais de setecentos
radialistas e comunicadores ligados ao movimento sindical rural. A estratégia
privilegiou, essencialmente, os meios de comunicação do movimento (boletins,
jornais e programas de rádio) como vetores de esclarecimento e de informação
sobre prevenção de acidentes e mortes.
Dessas sementes surgem os frutos: contato com realidades diversas, de norte
a sul do país, e a descoberta de milhares de pequenas emissoras espalhadas
pelo Brasil profundo e que tinham à frente associações de moradores,
associações de bairro, de paróquias, entidades não governamentais e
sindicatos de trabalhadores.
De natureza diversa e das mais diversas expressões, essas rádios, através de
suas coordenações e equipes, apontavam não só experiências bem sucedidas
como também dificuldades e deficiências de natureza técnica, jurídica e
operacional vividas no dia-a-dia de uma comunitária. Junto disso, um universo
de entidades e pessoas buscando informações, meios e formas de como
montar e gerir uma rádio.
Configuravam-se, desta forma, dois grandes blocos que precisavam ser
pensados e atendidos distintamente: o das rádios já existentes e o das
protorádios.
E foi na tentativa de responder a esses dois sub-sistemas, sobretudo os
localizados na Grande São Paulo, que a OBORÉ se viu desafiada a buscar
parcerias com instituições permanentes como universidades, centros de
pesquisa e poder público para viabilizar uma série de cursos temáticos para
radiocomunicadores.
Falando de Comunicação e Saúde
São Paulo foi palco, no fim dos anos 90, da implantação do Projeto Qualidade
Integral de Saúde (Qualis) em dez áreas das regiões norte e sudeste da
cidade. A Secretaria Estadual da Saúde, gestora do projeto, reconheceu que
necessitava de forte apoio popular e da opinião pública para essa implantar
esse novo modelo, célula inicial do Programa de Saúde da Família, em
disseminação por todo o território nacional, orientado pelas diretrizes do SUS
mas ainda não experimentado em grandes cidades.

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O cardiologista Dr. Adib Domingos Jatene, à época diretor da Fundação Zerbini
- entidade civil ligada ao Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP, convida o sanitarista David Capistrano para
assumir o Qualis, em 1997. David imediatamente identifica nessas dez áreas
da capital um número alarmante de moradores com tuberculose: uma doença
com um diagnóstico absolutamente elementar, cujo remédio era oferecido
gratuitamente na rede pública de saúde e com grande chance de cura para
quem obedecesse a prescrição médica - tomar os comprimidos diariamente,
durante seis meses e ininterruptamente.
Capistrano procura a OBORÉ para desenvolver um plano de comunicação que
ajudasse a reverter o quadro da doença e das mortes por tuberculose. Para
ele, era preciso informar e esclarecer a população que o tratamento de
tuberculose não poderia ser interrompido antes dos seis meses; que as
pessoas não caíssem na ilusão de que já estavam "curadas" com um ou dois
meses de tratamento só porque os sintomas tinham ido embora. Enfim, era
preciso melhorar o trabalho de comunicação com todas as casas, pessoas, com
os parentes e vizinhos.
Monta-se, então, um plano de trabalho baseado nos resultados de duas ações
imediatas:
1. Aplicação de questionário, em outubro de 98, junto aos 32 coordenadores e
agentes comunitários de saúde desses dez centros do Programa de Saúde da
Família das zonas norte e sudeste de São Paulo para identificar como eles se
informavam no dia a dia. A apresentação dos dados resulta no “Seminário de
Recepção e Informação das Unidades de Saúde do Projeto Qualis”, em
novembro do mesmo ano. No evento, todos se conscientizam do importante
papel que a comunicação tinha a desempenhar na luta contra a tuberculose.
2. Aplicação de nova pesquisa por esses 32 gestores e agentes de saúde, entre
março e abril de 99, junto a 1.757 moradores (“Quem fala com o povo”) para
saber quais os recursos de comunicação existentes no território.
O plano apontou as seguintes direções: a) entrosamento de Jatene e
Capistrano com o jornalista Heródoto Barbeiro, da rádio CBN, para ajudar na
divulgação dos grandes problemas de saúde da população ( especialmente a
tuberculose) junto aos radialistas das grandes emissoras; b) construir uma
ponte em direção à Faculdade de Saúde Pública da USP para organizar cursos
de extensão, aos sábados, que capacitassem comunicadores populares e
estudantes de jornalismo no assunto “saúde”; c) criação de um programa de
rádio – Plantão Saúde – para abastecer, ao menos, as rádios comunitárias dos
bairros onde atuava o Projeto Qualis, inventariadas pela própria população
local. Durante três meses os programas de rádio foram produzidos,
reproduzidos em fita cassete e distribuídos para cerca de 50 emissoras.
Nasciam, assim, as bases da Rede de Comunicadores pela Saúde, atualmente
formada por 527 emissoras comerciais e comunitárias distribuídas por todo o
território nacional, que veiculam com dias e horários definidos os programas
semanais Plantão Saúde.

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O envolvimento da Universidade em atividades de extensão
Com o apoio de Capistrano, agora recém-chamado pelo Ministério da Saúde
para a implantação das Casas de Parto em todo o Brasil, a OBORÉ conseguiu
patrocínio da Secretaria de Políticas de Saúde ao Ministério, cujo titular era o
Dr Cláudio Duarte, para desenvolver os Cursos de Informação sobre Saúde
Pública para Radiocomunicadores na Faculdade de Saúde Pública da USP,
através do seu Centro de Educação Permanente.
Voltados tanto para comunicadores populares como para estudantes de
comunicação, o objetivo dos cursos era estimular o envolvimento da
Universidade na qualificação desses comunicadores para que, por sua vez,
também pudessem se envolver na divulgação da prevenção dos grandes
problemas de saúde da população.
Pela primeira vez, nos seus 86 anos de existência, a Faculdade de Saúde
Pública da USP, cujo diretor era o professor Arnaldo Siqueira, abria os portões
para a comunidade através de cursos de extensão. A coordenação, pela FSP,
ficou a cargo do professor Paulo Gallo, do Departamento de Saúde Materno
Infantil. Pela OBORÉ, responsável por toda a parte executiva, coube ao
jornalista Sergio Gomes a mobilização dos radialistas e a coordenação técnica
das atividades de comunicação.
Nas suas três edições - de 99 a 2001 – esses cursos capacitaram mais de 400
pessoas, entre comunicadores populares de rádios comunitárias da Região
Metropolitana de São Paulo, jornalistas - da grande imprensa, de jornais de
bairro, da imprensa comunitária e sindical - profissionais da saúde, além de
estudantes de jornalismo. Os encontros semanais, sempre aos sábados, foram
realizados na Sala Paula Souza, onde são defendidas as teses de mestrado e
doutorado e por onde passaram os grandes mestres da Saúde Pública do país.
Compromisso de honra, palavra cumprida
E foi na Sala Paula Souza, no dia 26 de agosto de 2000, que o candidato a
vereador pelo PSDB Ricardo Montoro assumiu o compromisso, se fôsse eleito,
de lutar a favor das rádios comunitárias. Assinou, de próprio punho, a
declaração "Em Defesa da Democracia na Comunicação e do Poder Local
Comunitário", comprometendo-se a trabalhar pela aprovação de uma lei
municipal autorizando o funcionamento das rádios comunitárias na cidade.
Eleito, Montoro uniu-se ao recém-nomeado líder do PT na Câmara, vereador
Carlos Neder e, no dia 15 de fevereiro de 2001, reunidos com o juiz Paulo
Fernando Silveira e os seus respectivos chefes de gabinete Francisco Buonafina
e Marco Manfredini, começaram a discutir a elaboração de um projeto de lei
voltado para regulamentar, em nível municipal, o funcionamento das rádios
comunitárias. Foi solicitado ao juiz Silveira a produção do anteprojeto que
daria origem ao Projeto de Lei 145/2001.

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Protocolado na Câmara dos Vereadores em 27 de março de 2001 pelos edis
Montoro e Neder (agora deputado estadual pelo PT), o PL145 recebeu parecer
favorável em todas as instâncias: Comissão de Constituição e Justiça (22 de
maio de 2001); Comissão de Política Urbana Metropolitana e Meio Ambiente
(26 de setembro de 2001); Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade
Econômica (4 de abril de 2002) e Comissão de Finanças e Orçamento (8 de
maio de 2002).
Dois anos depois, o projeto de lei foi apresentado por Montoro para votação
em plenário da Câmara Municipal em duas instâncias. Sua última e definitiva
aprovação foi no dia 11 de maio de 2005.
Essa história vai virar livro
Para comemorar mais essa importante etapa, foi organizado um ato, no dia 4
de junho, no espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
por iniciativa do Escritório Modelo "D. Paulo Evaristo Arns" da Faculdade de
Direito da PUC/SP, Itaú Cultural, Rádioficina, dos gabinetes dos Vereadores
Montoro, Soninha Francine (PT), do deputado Carlos Neder e da OBORÉ.
Na ocasião, foram homenageadas com o 1º Troféu-Tesouro Landell de Moura
as cinco personalidades responsáveis pela trajetória do projeto na Câmara dos
Vereadores: o juiz Silveira, Montoro; Neder; o arquiteto, urbanista e ex-
vereador Nabil Bonduki e o engenheiro Fernando Pereto. E para comemorar a
sanção da lei, em 23 de junho, organizou-se o piquenique nos Céus da Vila
Buarque, no dia 25 de junho, no terraço do Edifício Copan, cartão postal da
cidade.
E o que tem o Copan a ver com isso? Vale lembrar que a iniciativa para a
construção do projeto de lei partiu de cinco entidades da Vila Buarque que
querem criar uma rádio comunitária no bairro - Sindicato dos Jornalistas de
São Paulo, Biblioteca Monteiro Lobato, Edifício Copan, Igreja da Consolação e
OBORÉ - e contaram, posteriormente, com o apoio da Faculdade de Saúde
Pública/USP e Rádio Heliópolis.
A história toda será contada por estudantes de jornalismo que aceitaram o
desafio de produzir um livro-reportagem sobre essas coisas que têm a ver com
a vida da cidade e que a imprensa tem ignorado. Esse grupo de jovens futuros
jornalistas participaram do módulo “Descobrir São Paulo, Descobrirse
Repórter”, realizado de abril a junho de 2005, como parte dos cursos regulares
do Projeto Repórter do Futuro.
O módulo inaugurou a parceria da OBORÉ com a ABRAJI – Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo na coordenação das atividades de
complementação universitária, há dez anos desenvolvidas pela OBORÉ.

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Outro importante capítulo: Cadê Canal para a Capital?
Era 2003 e o panorama na área da radiodifusão comunitária em São Paulo
permanecia inalterado, ou seja, a cidade continuava a fazer parte do rol de
municípios não contemplados com avisos de habilitação para esse tipo de
serviço. O Ministério das Comunicações, que divulga periodicamente avisos de
habilitação para que as entidades que pretendem implantar rádios
comunitárias apresentem a documentação exigida, continuava a ignorar a
enorme demanda da maior cidade do país.
Havia associações, constituídas de acordo com as exigências da lei que
regulamenta o segmento (lei 9.612/98) que, tendo enviado os documentos ao
Minicom, aguardavam há três, quatro anos, sem receber qualquer tipo de
resposta da pasta. E havia ainda a presença constante e ameaçadora da
repressão às rádios comunitárias. Em ação conjunta, Polícia Federal e Anatel
lacravam rádios e apreendiam equipamentos, estabelecendo-se assim um
círculo vicioso que dura até hoje. Sem resposta do Minicom, as pessoas
colocam as emissoras no ar e sem autorização para funcionar, são alvos das
ações policiais, muitas vezes, truculentas.
A favor das rádios comunitárias, tramitava na Câmara à época, o projeto de lei
145/01 (sancionado em 23 de junho de 2005) reunindo dois vereadores que
representavam então as duas maiores bancadas da casa: Carlos Neder (PT) e
Ricardo Montoro (PSDB). O projeto propunha a municipalização da lei que
regulamenta as rádios comunitárias, trazendo para o executivo municipal o
poder de decisão sobre as outorgas.
Cobrando a promessa
Sabia-se então que não eram publicados avisos de habilitação para a região da
Grande São Paulo e de outros 35 municípios, porque não havia sido encontrada
uma freqüência exclusiva para pequenas emissoras nessas localidades. E como
o Ministério das Comunicações e a Anatel haviam prometido, três anos antes,
realizar estudos técnicos para definir um canal para as rádios comunitárias,
sem apresentar nenhuma proposta, a OBORÉ, o Sindicato dos Jornalistas de
São Paulo e os gabinetes dos vereadores Carlos Neder e Ricardo Montoro
iniciaram o movimento Cadê canal para a Capital?.
O objetivo era promover um encontro para que o Ministério das Comunicações
e a Anatel se posicionassem a respeito dos tais estudos técnicos e sobre a
demora em definir a faixa de freqüência para a radiodifusão comunitária na
capital paulista.
Foi assim que no dia 23 de setembro de 2003, aconteceu, no Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo, o primeiro encontro Cadê canal para a Capital?
Presente a Anatel, representada por Pedro Humberto de Andrade, Gerente de
Regulamentação Técnica da Anatel, Everaldo Gomes Ferreira, Gerente Regional
da Anatel-São Paulo, e cerca de 60 pessoas de diversas entidades do
movimento em prol das rádios comunitárias – ABRAÇO, Fórum Democracia na

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Comunicação, ANCARC (Associação
Nacional Católica das Rádios
Comunitárias), SINERC (Sindicato Nacional das Emissoras de Radiodifusão
Comunitária) e FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação),
além dos gabinetes dos vereadores Neder e Montoro.
Muitas dessas pessoas participavam naquele dia, do primeiro Seminário Onda
Cidadã, promovido pelo Itaú Cultural e que reunia radialistas de 17 Estados,
todos ansiosos por ouvir o que a Anatel tinha a dizer.
Fala a Anatel
As notícias, no entanto, não eram boas. Os estudos que o CPqD – Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações – realizara durante três
anos, a pedido da Anatel, concluía que a faixa de freqüência do espectro
radiolétrico disponível para a implementação de emissoras de rádios em São
Paulo, estava esgotada. “As perspectivas técnicas para que esse problema se
resolva são remotas”, disse então o engenheiro Pedro Humberto de Andrade,
acrescentando que haviam localizado um canal para as emissoras
comunitárias, mas este fora cedido, por decisão judicial, à família Abreu, dona
de inúmeras estações comerciais na cidade.
clima esquentou a reunião e surgiu então a proposta que a Anatel fosse
convocada, desta vez pelo Poder Legislativo, para prestar esclarecimentos
oficiais sobre a questão. O novo encontro Cadê canal para a Capital? aconteceu
no dia 5 de novembro de 2003, em sessão solene da Comissão de
Administração Pública da Câmara Municipal. Presidida pelo vereador José
Roberto Farhat (PTB), a sessão reuniu mais de 100 pessoas que ouviram do
gerente geral de Planejamento da Anatel, Yapir Marotta: “O CPqD realizará
novos estudos e é bem provável que, até abril de 2004, os canais 198 e 199 já
estejam à disposição da Grande São Paulo”.
A sensação era que, novamente, empurrava-se a decisão com a barriga e para
manter a mobilização e lembrar à Anatel que havia uma promessa a ser
cumprida, foi marcado um seminário no dia 13 de março de 2004, na Câmara
Municipal de São Paulo. A idéia era realizar um grande encontro que reunisse
não só pessoas ligadas aos movimentos de rádios comunitárias, mas também
gente das áreas da saúde e da educação para discutir como a comunicação,
através das emissoras comunitárias, poderia potencializar as ações desses dois
segmentos.
A Comunicação a Serviço da Saúde
O público que lotou o Salão Nobre da Câmara dos Vereadores de São Paulo na
manhã daquele sábado, 13 de março de 2004, superou o esperado. Foram
mais de 200 pessoas, entre elas, representantes de rádios comunitárias, de
órgãos municipais e de ONGs, agentes de Saúde da Família, e estudantes, de
escolas públicas de ensino fundamental e de universidades. Iniciativa do
gabinete do vereador Carlos Neder, o encontro, batizado de Seminário de
Avaliação e Planejamento: Comunicação a Serviço da Saúde no Município de

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São Paulo, foi promovido pela Secretaria Municipal da Saúde, Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo, mandatos dos vereadores Nabil Bonduki , Ricardo
Montoro e Carlos Neder, Associação Saúde da Família e OBORÉ.
O evento teve a participação do então Secretário Municipal da Saúde, Dr.
Gonzalo Vecina, e também de Fred Ghedini, presidente do Sindicato dos
Jornalistas de São Paulo, dos vereadores Carlos Neder e Nabil Bonduki, do
jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, e de Arnaldo de Souza Filho,
assessor da ANATEL – SP a quem estavam direcionados todos os olhares como
a perguntar: “E aí, Anatel, Cadê Canal para a Capital?”
Souza Filho, no entanto, repetiu os argumentos do engenheiro Pedro
Humberto, na reunião do dia 23 de setembro, frustrando a expectativa de
quem esperava ouvir alguma novidade sobre uma freqüência para as rádios
comunitárias de São Paulo. Disse ele que a Anatel continuava aguardando o
relatório do CPqD sobre a questão.
Sem saber o que mais dizer, o assessor da Anatel teve ainda que ouvir do
vereador Neder que a Abert – Associação Brasileira de Rádio e Televisão –
poucos dias antes havia enviado uma delegação à Câmara para dizer ao seu
então presidente, Arselino Tato, que ele não deveria permitir que o PL 145/01
fosse a votação e que, caso o projeto fosse aprovado, eles entrariam com uma
ação de inconstitucionalidade junto ao Poder Judiciário. “Uma pressão indevida
sobre um órgão autônomo como a Câmara Municipal”, indignou-se o vereador,
pedindo ao representante da Anatel que a agência informasse com mais
precisão o prazo em que seria divulgado o resultado dos estudos do CPqD.
Apoio nas questões jurídicas
Um grupo de estudantes de direito, advogados e professores reunidos na
Banca Jurídica de Apoio às Rádios Comunitárias permaneceu de plantão
durante o seminário respondendo a questões sobre como encaminhar ao
Ministério das Comunicações a documentação para obter as outorgas. Algumas
pessoas do grupo representavam o Escritório Modelo D. Paulo Evaristo Arns da
Faculdade de Direito da PUC-SP, e coordenadas pela advogada Anna Claudia
Vazzoler, prestam assessoria jurídica gratuita às associações.
Enquanto a Banca Jurídica atendia de um lado do Salão Nobre, do outro
posicionava-se o engenheiro Fernando Peretto, responsável pelo CEPERadCom
– Centro de Elaboração de Projetos de Engenharia para Radiodifusão – falando
aos interessados sobre os aspectos técnicos que envolvem colocar em
funcionamento uma emissora comunitária.
Para contribuir na empreitada de aproximar as áreas da saúde e da educação,
o Núcleo de Gestão da Informação da OBORÉ organizou uma exposição dos
mapas das 31 Subprefeituras (como então estava dividida a cidade), indicando
em cada uma delas os serviços de saúde locais e as escolas municipais de
ensino fundamental participantes do Programa Educom.rádio.

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Não houve novidades para as rádios comunitárias naquele 13 de março, mas
foram anunciadas duas boas notícias: a sanção da lei 13.796/04, que instituiu
o dia 7 de abril como o Dia do Agente Comunitário de Saúde no município,
coincidindo com o Dia Mundial da Saúde, e o resultado da enquete Quem fala
com o Povo, respondida por 2.822 moradores dos bairros de Sapopemba e Vila
Prudente aos Agentes Comunitários de Saúde dessa região.
Supervisionada pela Associação Saúde da Família, Fundação Zerbini, Secretaria
Municipal da Saúde e OBORÉ, a enquete apontou os radialistas em quem a
população desses bairros mais confia. Os mais votados: Padre Marcelo Rossi,
Eli Corrêa, Paulo Lopes, J. Santos, Paulo Barboza , Laércio Maciel, Patrícia
Liberato, Antonio Carlos, Fernando Gasparetto, Ricardo Leite, Pedro Luis
Ronco, Emílio Surita, Zé Luis, Gleides Xavier, Nuno Mendes e Heródoto
Barbeiro.
Durante o evento, o Coral Luther King interpretou o Hino Nacional da África do
Sul, em arranjo do maestro Martinho Lutero, diretor artístico do coro, e
regência de Bett Just, e a poesia Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade,
com música de Oswaldo Lacerda e regência de Rosana Danin, entre outras
canções.
Propostas aprovadas no Seminário de Avaliação e Planejamento:
Comunicação a Serviço da Saúde no Município de São Paulo:
1) Continuar o movimento “Cadê canal para a Capital”
2) Realização de encontros regionais para debater os temas discutidos no
seminário
3) Encontros dos coordenadores do projeto Educom.rádio e Secretaria
Municipal da Saúde
4) A necessidade de se abastecer as rádios comunitárias e as escolas do
Projeto Educom.rádio com materiais radiofônicos
5) Realização da Conferência Municipal de Comunicação e Saúde
6) Avançar na Câmara Municipal: o PL 145/01 (ir a votação), o projeto
Educom.rádio (tornar-se lei) e elaboração do Plano Diretor de Radiodifusão
Comunitária e Educativa da Capital
7) Aplicar a pesquisa realizada na Subprefeitura Sapopemba / Vila Prudente
nas outras Subprefeituras.
Colaboraram para a realização do seminário: Agentes Comunitários de Saúde
da Coordenadoria de Saúde de Sapopemba / Vila Prudente, Secretaria
Municipal da Saúde, Associação Saúde da Família, Fundação Zerbini, ,
Mandatos dos Vereadores Ricardo Montoro, Carlos Neder e Nabil Bonduki ,
Coordenadorias de Saúde de Cidade Ademar, São Miguel Paulista, Penha ,

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Lapa , Vila Prudente / Sapopemba, Saúde, Sé ,Capela do Socorro, Jabaquara e
M’Boi Mirim, Unidade de Vigilância em Saúde da Coordenadoria de Saúde da
Sé, Assistência Especializada em DST/Aids do Ipiranga, Associação
Comunitária Monte Azul, Rádio Heliópolis da UNAS – União de Núcleos e
Associações de São João Clímaco e Heliópolis, Sindicato dos Jornalistas de São
Paulo, Escritório Modelo “D. Paulo Evaristo Arns” da Faculdade de Direito da
PUC/SP, OPASQUIM21, Datagraph Engenharia, INTERVOZES - Coletivo Brasil
de Comunicação Social, UNICSUL – Universidade Cruzeiro do Sul, Comunidade
Coral Luther King e OBORÉ.
Acharam o canal!
Poucos dias após a realização do Seminário de Avaliação e Planejamento:
Comunicação a Serviço da Saúde no Município de São Paulo, a Anatel publicou
no Diário Oficial da União, edição de 26 de abril de 2004, o Ato nº 43.957,
alterando a distribuição dos canais de radiodifusão comunitária e
disponibilizando o canal 198 para a cidade de São Paulo e 35 municípios da
Região Metropolitana.
A proposta de alteração do Plano de Referência para Distribuição de Canais do
Serviço de Radiodifusão Comunitária ficou em Consulta Pública (nº 514) até o
dia 14 de abril de 2004, sem nenhuma manifestação em contrário.
Após três anos de promessas, a Anatel, pressionada por reuniões, audiências
públicas e seminários, descobria enfim, um espaço no dial para as pequenas
emissoras de São Paulo, ampliando a faixa de radiodifusão em FM. Em vez de
começar na freqüência 87,8, o dial começa agora em 87,4. A boa nova foi
comemorada alguns dias depois, num grande encontro, na Câmara Municipal
de São Paulo.
Unindo comunicação, educação e cultura
Os diversos objetivos do encontro - "Pela democratização da comunicação, em
apoio ao Projeto Educom.rádio, por mais espaço nas rádios para a música
brasileira de qualidade, em comemoração à definição do canal 198 para as
rádios comunitárias da Grande São Paulo e contra o “jabá” – levaram pessoas
dos mais variados segmentos à Câmara dos Vereadores de São Paulo, no dia 5
de junho de 2004, quando foi realizado o Seminário Comunicação a Serviço da
Educação e da Cultura.
Para o vereador Carlos Neder, um dos convidados do encontro, a
democratização dos meios de comunicação é fundamental para formar
cidadãos. "Nós precisamos educar as pessoas para a mídia. É preciso que as
pessoas tenham condições críticas de fazer análise da programação dos
veículos de comunicação, saber como são feitas as concessões e de que forma
elas podem se apropriar desses instrumentos", disse na solenidade de abertura
do evento.

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Já Nabil Bonduki, autor da proposta do Plano Diretor da Radiodifusão
Comunitária, afirmou: "Educação e cultura são duas áreas onde a rádio
comunitária pode ter uma importância muito grande, uma vez que nós
precisamos contar com esse instrumento de comunicação para chegar à
população, sobretudo agora que o canal 198 está definido, poderemos ter uma
rede de rádios comunitárias funcionando no município de São Paulo".
Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, o professor Ismar Soares
afirmou : "Ao preparar professores e alunos e membros da comunidade para
usar a linguagem radiofônica a partir da perspectiva da gestão democrática, o
Programa Educom.rádio está fornecendo mão-de-obra qualificada para
propostas de rádios comunitárias que venham a ser desenvolvidas na cidade".
Propostas aprovadas no Seminário Comunicação a Serviço da Educação e da
Cultura:
1 - Que os Escritórios-modelo das principais Faculdades de Direito de São
Paulo promovam um encontro de alto nível com a Diretoria da OAB - Ordem
dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo -para que se organize, no próximo
semestre, um Simpósio sobre Direito Constitucional, Poder Local e
Radiodifusão.
2 - Que os professores e alunos do Escritório Modelo "D.Paulo Evaristo Arns"
da Faculdade de Direito da Universidade Católica de São Paulo sejam apoiados
de todas as formas para que possam ser bem sucedidos em sua iniciativa de
criar uma Banca Jurídica destinada a assessorar os que pretendem fundar
rádios comunitárias e/ou educativas.
3 - Que a ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações - venha a realizar,
em breve , um encontro de esclarecimentos técnicos a respeito da liberação
dos canais 198 e 199 para o funcionamento das Rádios Comunitárias na região
da Grande São Paulo.
4 - Que ABMI - Associação Brasileira de Música Independente, AMAR -
Associação de Músicos Arranjadores e Regentes, Clube do Choro, movimentos
de Hip Hop e outras instituições relacionadas à promoção e defesa da
diversidade musical brasileira, venham a reforçar os propósitos do Itaú
Cultural e ajudem a promover, em setembro, o 2º Seminário Onda Cidadã:
Radiodifusão, Cultura e Educação.
5 - Que sejam procurados o CETS - Centro de Estudos do Terceiro Setor da
FGV - Fundação Getúlio Vargas, o SEBRAE, o Departamento de Jornalismo da
ECA-USP - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
- e outras instituições do gênero - para que possam contribuir, efetivamente,
com cursos de gestão e auto-sustentação voltados para as emissoras
comunitárias e educativas.

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6 - Que algumas EMEFs - Escolas Municipais de Ensino Fundamental - já
capacitadas pelo projeto Educom.rádio - Educomunicação Pelas Ondas do
Rádio, curso ministrado, desde o segundo semestre de 2001, pelo NCE -
Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP, pudessem conhecer in loco a
experiência das Rádios Comunitárias/Educativas de Itabuna, Bahia.
O encontro teve os seguintes realizadores e apoiadores: Mandatos Vereador
Nabil Bonduki, Vereadora Tita Dias, Vereador Beto Custódio, Vereador Ricardo
Montoro, Deputado Estadual Vicente Cândido, Secretaria Municipal da
Educação, Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, NCE - Núcleo de Comunicação
e Educação da ECA/USP, Escritório Modelo "D. Paulo Evaristo Arns" da
Faculdade de Direito da PUC/SP, Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade
de Direito da USP, Centro Acadêmico Florestan Fernandes da Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, Sindicato dos Jornalistas Profissionais no
Estado de São Paulo , AMARC-Brasil - Associação Mundial de Rádios
Comunitárias e Cidadãs, ABRAÇO/SP - Associação Brasileira de Rádios
Comunitárias , Sinerc , Comitê São Paulo do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação, Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação
Social, OPASQUIM21, TV Comunitária SP, Associação Torre Forte FM, Rádio
Heliópolis da UNAS - União de Núcleos e Associações de São João Clímaco e
Heliópolis, , Rádio Filadélfia, Associação Comunitária Monte Azul, Condomínio
Edifício COPAN, Itaú Cultural, Instituto Pólis, Ação Educativa, Escola da
Cidade, Comunidade Coral Luther King / Fórum Coral Mundial, Cooperativa
Paulista de Música, N.Ex.T-Núcleo Experimental de Teatro ,Grupo "Dolores
Boca Aberta Mecatrônica de Artes", Projeto Arco-Íris, Cala-Boca Já Morreu,
GENS Serviços Educacionais, Incomoon - Cooperativa de Comunicação,
Datagraph Engenharia , Sarau do Charles, Brasil Festeiro, Agenda Samba &
Choro, São Paulo Home Care.
Um passo a mais na direção da democracia na comunicação
O Programa Educom - Educomunicação pelas ondas do rádio, desenvolvido de
2001 a 2004, pela Secretaria Municipal de Educação e pelo Núcleo de
Comunicação e Educação da ECA/USP, capacitou cerca de 12 mil pessoas,
entre estudantes, professores e membros da comunidade escolar, visando à
implementação de atividades educomunicativas nas escolas da rede pública
municipal da cidade de São Paulo.
A educomunicação compreende, de forma simplificada, ações voltadas para a
construção da cidadania, tendo como ponto de partida a comunicação e o
direito de todos à liberdade de expressão. O conceito de educomunicação
ganhou força nos anos 70 com a proliferação de centros de documentação da
cultura popular em vários países da América Latina que propunham uma
comunicação alternativa como forma de resistência aos regimes autoritários do
continente.
Quando surgiu, o programa tinha como proposta combater a violência e
favorecer a cultura de paz nas escolas. Visava ainda incentivar a radiodifusão
de interesse público – rádio e televisão comunitárias – e ampliar o acesso às

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tecnologias da informação e da comunicação, assim como estimular a
população a colaborar com o Poder Público na difusão de informações sobre
educação, saúde, esporte, cultura e meio ambiente, entre outras.
A OBORÉ foi convidada a participar da capacitação do programa Educom,
realizando as palestras dos eixos temáticos “Saúde e Comunicação” e “Políticas
Públicas de Comunicação”. Após a capacitação, que privilegiou a produção de
conteúdo para rádio, o programa previa o fornecimento de um kit a todas as
escolas contendo mesa de som, transmissor, caixas receptoras, antena,
microfones, headphones, CD Player, tape deck e gravadores.
O Programa Educom tem origem no projeto de lei 556/02, do então vereador
Carlos Neder (PT). Sancionado em dezembro de 2004, tornou-se a lei nº
13.941/04, que foi regulamentada pelo decreto nº 46.211, de 15 de agosto de
2005. Hoje deputado estadual, Neder também é autor do projeto de lei 375
que tramita na Assembléia de São Paulo. Aprovando também este projeto, o
deputado pretende garantir que o conceito e as metodologias da
educomunicação se estendam a todo o Estado de São Paulo.
Comitê Gestor tem missão de definir os rumos do Programa
Para implantar e acompanhar a aplicação do Educom nas escolas, foi nomeado
um Comitê Gestor. Têm assento no Comitê, as Secretarias Municipais de
Educação, da Saúde, de Cultura, de Esportes, Lazer e Recreação, do Verde e
do Meio Ambiente, além de um representante da USP, dos grêmios estudantis
das escolas municipais, dos professores da Rede Pública Municipal de Ensino,
dos sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas de São Paulo, e Senac.
A primeira diretoria do órgão, cuja missão é definir as diretrizes gerais para a
implantação do programa, foi eleita no dia 12 de junho de 2006. Cabe ainda ao
Comitê sugerir às Secretarias e demais órgãos municipais ações na área da
educomunicação, além de credenciar instituições prestadoras de serviço ou
universidades candidatas às atividades de formação e acompanhar os
programas desenvolvidos pelas Secretarias.
Também faz parte das atribuições do Comitê buscar contato com o Ministério
das Comunicações para viabilizar o programa. Isto porque o secretário da
Educação à época da regulamentação da lei, José Aristodemo Pinotti, via no
Programa Educom o embrião de futuras emissoras comunitárias.
Relatório apresenta parecer favorável à implantação de rádios nas
escolas
Nessa perspectiva, foi realizada em 23 de fevereiro de 2006, sob os auspícios
do Itaú Cultural, a Mesa Redonda / Seminário: Rádio nas Escolas. A proposta
era avaliar a viabilidade jurídica e técnica para a implantação de rádios nas
escolas públicas municipais da cidade de São Paulo. Resultou do encontro, um
relatório técnico dando parecer favorável ao projeto do então secretário Pinotti.

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O evento reuniu uma equipe com jornalistas, engenheiros, pedagogos e
advogados, e foi coordenado pelo jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ
Projetos Especiais, parceira do Itaú Cultural na realização dos encontros “Onda
Cidadã”. Esses eventos, voltados a pequenas emissoras comunitárias,
comerciais e educativas de todo o país, acontecem anualmente.
Com a saída de Pinotti da secretaria, em março, o relatório técnico e um
dossiê, contendo a documentação que subsidiou a mesa redonda/seminário, foi
entregue ao atual secretário da Educação, Alexandre Alves Schneider que
ainda não se pronunciou a respeito do projeto pensado por Pinotti.
Se decidir por avançar na idéia do antecessor, Schneider encontrará novidades
que podem facilitar a tarefa. Uma delas, é o Plano Diretor de Radiodifusão
Comunitária que deverá organizar as rádios no território da cidade. Outra, é
que as rádios comunitárias, que em São Paulo não tinham faixa de sintonia
específica, podem ocupar o canal 198, de acordo com o Ato nº 43.957 da
Anatel, publicado no Diário Oficial da União em 26 de abril de 2004.
O Comitê realizará um workshop, no início do segundo semestre de 2006,
destinado aos secretários das pastas que têm representação no órgão. O
objetivo é promover a aproximação entre as secretarias para que elas possam
conhecer melhor o Programa Educom e passar a desenvolver ações na área da
educomunicação.
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